Pai, por que a gente torce por um time ruim?

Maurício Targino
3 min readOct 27, 2024

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Lá por meados de julho, pai e filhos saíam de alguma arena por aí após mais uma péssima atuação do time deles. Foi quando o mais velho dos garotos fez a pergunta de um milhão de dólares (e um punhado a mais).

“Pai, por que a gente torce por um time ruim?”

O pai, subitamente despertado do transe causado pelo mantra “pelo menos pegou o empate”, foi rápido. Algo como “não importa se o time é bom ou ruim, o que importa é que você, seu irmão, seu pai, seu tio e mais um monte de gente saiu de casa e veio apoiar”.

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Quando tudo dava a entender que o resultado tinha sido bem aceito pelo calejado pai, eis que o sujeito emenda uma sequência de palavrões impublicáveis antes de emendar um “se esses vagabundos não fizeram a parte deles, que era jogar bem e ganhar o jogo, que se danem.”

Palavras fortes, talvez belas, mas que no final não respondem à pergunta que dá título a este texto e que foi citada no segundo parágrafo. Caso precise refrescar a memória, é a seguinte:

“Pai, por que a gente torce por um time ruim?”

Sem se aprofundar muito, todo time de futebol profissional já foi ruim em algum momento de sua história. Até o Real Madrid ficou dez anos sem levantar uma taça, mesmo com o mundo em guerra em seis desses anos.

Por outro lado, até times como o Santa Cruz tiveram lá seus momentos de brilho. Ou seja, talvez seja preciso definir o que é um time ruim.

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O garoto que fez a pergunta diria que time ruim é qualquer um que tenha Luciano Castán como zagueiro titular.

O treinador pediu demissão na rodada seguinte, seu substituto durou só cinco partidas e o que veio em seguida, ao que parece, deu certo. Até o time voltou a jogar em seu estádio após quase um ano.

Na reta final de outubro, pai e filho mais velho voltaram juntos à casa do time. O caçula ficou em casa, graças ao proibitivo horário das 21h30 de uma quinta-feira.

O sono já tomava conta da criança quando saiu o primeiro gol. Ainda grogue, cochilou e não viu o segundo. Impedido de dormir, comemorou o terceiro. Despertou. Fim do primeiro tempo.

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O garoto realmente despertou, pois acompanhou uma etapa final onde pouca coisa aconteceu. Acabou premiado com mais um gol nos minutos finais.

Testemunha da maior vitória do time no campeonato até ali, a criança encontrou a resposta da pergunta que atormentara seu pai nos últimos três meses.

A resposta é pra ver se o time melhora.

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Written by Maurício Targino

Pai de meninos, marido de mulher, limpador de caixa de areia de gatas e datilografista.

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